sexta-feira , 18 outubro 2024
Lar Cidade Insegurança jurídica ameaça investimentos de até R$ 2 bi no litoral potiguar
Cidade

Insegurança jurídica ameaça investimentos de até R$ 2 bi no litoral potiguar

A demarcação de um território quilombola na praia de Sibaúma, no município de Tibau do Sul, tem preocupado empreendedores que planejam instalar equipamentos turísticos na região. A possível delimitação da comunidade pode inviabilizar cerca de R$ 2 bilhões em investimentos, estimam os empresários.

O principal entrave é a reabertura de um processo administrativo no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), arquivado em 2010, que prevê a demarcação e a titulação de um território quilombola na praia de Sibaúma.

Segundo o Incra, em nota enviada ao NOVO, o processo administrativo que trata da regularização do Território Quilombola de Sibaúma foi aberto em 2005 e arquivado em 2010, a pedido da comunidade quilombola, ainda antes da conclusão do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID).

À época, apenas o Relatório Antropológico, uma das peças que compõem o RTID, havia sido finalizado. Com a reabertura do processo, em 2020, houve a necessidade de atualizar a situação do Quilombo Sibaúma em relação ao território.

A área indicada como território tradicional é muito valorizada, por se tratar de uma região de grande potencial turístico. Atualmente, é ocupada por empreendimentos hoteleiros, residenciais e de lazer.

“Essa situação, entrelaçada a uma longa história de conflitos internos associados às famílias da própria comunidade, tem resultado em grande dificuldade e demora para se estabelecer um consenso a respeito dos limites do território quilombola. Com a definição desse perímetro, sem data para conclusão, a próxima etapa será a elaboração da Planta e do Memorial Descritivo do Território Quilombola, concluindo-se assim o RTID, e dando sequência à sua publicação”, detalhou o Incra.

Com a demarcação, potenciais licenças ambientais e de construção passariam a ser totalmente afetadas com novas exigências, tal como a consulta prévia, livre e informada determinada pela Convenção Internacional 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em razão da comunidade autodefinida como Remanescente de Quilombolas.
A insegurança jurídica afeta não apenas a comunidade quilombola, que aguarda a regulamentação, mas também proprietários de imóveis, empreendedores e a economia do município de Tibau do Sul. No entanto, em meio ao imbróglio jurídico envolvido, o Incra aponta que, após a publicação do RTID, haverá um prazo para que quaisquer interessados apresentem contestações. O órgão não delimitou prazos para encerrar o processo.

“Após esse período [conclusão do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação], o Incra publicará uma Portaria de Reconhecimento do Território Quilombola, seguida da publicação de um Decreto Desapropriatório por Interesse Social assinado pelo presidente da República. Por fim, o Incra fará a avaliação para as devidas indenizações e o registro e titulação. Tendo em vista que não é possível antever com precisão a duração dessas etapas, não há previsão para a conclusão dos procedimentos”, detalhou o Incra.

Também em nota, a Associação dos Remanescentes Quilombolas de Sibaúma reforça a necessidade de o Incra demarcar o terreno, protegendo a identidade da comunidade. “As tentativas de desacreditar a legitimidade histórica e cultural de nossa comunidade, baseando-se em um suposto laudo antropológico “muito fraco”, não apenas desrespeitam a memória de nossos ancestrais, mas também ignoram a legislação vigente que reconhece e protege os direitos das comunidades quilombolas em todo o território nacional. É imperativo ressaltar que a identidade quilombola de Sibaúma foi reconhecida pelo INCRA, após rigoroso processo de identificação e delimitação, que cadastrou 265 famílias como remanescentes de quilombolas, legitimando nossa história e nossos direitos”, aponta a entidade.

Empreendedores pedem diálogo entre partes envolvidas

Uma das principais questões que tem causado apreensão é a discrepância entre as coordenadas da área quilombola de Sibaúma fornecidas pelo Ministério Público Federal (MPF/RN). As coordenadas representam um território quilombola muito maior do que o definido pelos próprios membros da comunidade.

A área consta no laudo antropológico, resultado de um convênio entre Incra e o departamento de Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o que pode agravar ainda mais os conflitos fundiários e causar prejuízos econômicos significativos.

Além disso, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEMA) passou a exigir, por recomendação do MPF, que qualquer empreendimento a ser licenciado em um raio de 8 quilômetros da comunidade quilombola necessita de consulta prévia, independentemente do seu potencial de causar impacto.

A medida, alega a Associação dos Proprietários de Imóveis e Empreendimentos do Distrito Praia de Sibaúma (ASPRIES), afetou diretamente empreendimentos já licenciados e ameaça a viabilidade de novos projetos na região. Os empreendedores temem cancelamentos ou mesmo a não renovação ou, ainda, a suspensão de licenças já concedidas, sem que haja qualquer falha técnica apontada.

“Quando empreendimentos que já haviam obtido todas as autorizações necessárias são subitamente surpreendidos com essa nova exigência, levando à paralisação do empreendimento, isso causa um efeito dominó que afeta diversos setores da economia local”, destaca o presidente da ASPRIES, Marcelo Xavier.

Os empreendedores pedem cautela nesse momento de incertezas e esperam um diálogo entre as partes envolvidas para soluções que contemplem os interesses de todos. A urgência de negociações e a união de objetivos são fundamentais para encontrar uma saída positiva em meio a esse momento conturbado. “O desenvolvimento imobiliário da região de Sibaúma está totalmente comprometido. O trecho é a última parte do município de Tibau do Sul que pode realmente crescer em termos imobiliários nos próximos 20 anos, podendo alcançar um potencial de R$ 2 bilhões em construção e milhares de empregos. Caso aconteça um embate jurídico na região, fica difícil ter um crescimento. Todos nós perdemos com isso. Os empresários e a comunidade”, encerra Fabiano Alexandre de Pontes e Silva, proprietário da Sibaúma Agropecuária LTDA.

Novo Notícias

Deixe um comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Artigos Recentes

Categorias

Artigos relacionados

Bloqueio na Ponte de Igapó já gerou prejuízo de R$ 233 milhões, diz STTU

O bloqueio de um dos lados da Ponte de Igapó, há pouco...

Prefeito Eraldo Paiva participa da inauguração do Hospital do Lions, em São Gonçalo do Amarante

Foi inaugurado no Bairro do Amarante, em São Gonçalo do Amarante, o...

Avanço Socioeconômico de São Gonçalo do Amarante Sob a Gestão de Eraldo Paiva

Em apenas dois anos de mandato, o prefeito Eraldo Paiva tem transformado...

Capelania Prisional Assistencial e Hospitalar Realiza Mais Um Curso em Igrejas do Rio Grande do Norte

A Capelania Prisional Assistencial e Hospitalar teve a honra de continuar seu...